Empresário investigado por matar funcionários de ferro-velho é detido na Bahia por tentativa de homicídio de três pessoas

Foto: Reprodução/Redes Sociais

Marcelo é acusado de assassinar Paulo Daniel Pereira e Matusalém Lima Muniz, desaparecidos desde 4 de novembro de 2024. As investigações apontam que as vítimas teriam sido torturadas e mortas no galpão do ferro-velho onde Marcelo foi preso nesta terça-feira. Até o momento, os corpos ainda não foram encontrados.

Os jovens sumiram após aceitarem trabalho como diaristas em um ferro-velho no bairro de Pirajá, em Salvador. A Polícia Civil considera ambos como mortos.

Marcelo Batista é o dono do estabelecimento onde os rapazes atuaram por cerca de três semanas.

Suspeito se entrega à Justiça após dois meses foragido
Em 9 de junho deste ano, Marcelo Batista se apresentou voluntariamente à Justiça, depois de permanecer foragido por mais de dois meses, após ser acusado de matar Paulo Daniel Pereira Gentil do Nascimento e Matusalém Silva Muniz.

Na ocasião, o juiz Vilebaldo José de Freitas concedeu liberdade provisória ao empresário e determinou medidas cautelares rigorosas, incluindo uso de tornozeleira eletrônica, recolhimento domiciliar noturno e proibição de deixar a cidade.

O magistrado ressaltou que a entrega espontânea de Marcelo, juntamente com a devolução do passaporte e um pedido formal de desculpas, demonstrava “arrependimento e respeito ao Judiciário”.

Com isso, a prisão preventiva do suspeito foi revogada pela segunda vez, substituída por medidas cautelares severas. O juiz avaliou que não havia indícios de ameaça a testemunhas nem risco à ordem pública.

Segundo a decisão, o descumprimento de qualquer medida poderia levar à revogação imediata da liberdade e à decretação de nova prisão preventiva, sem necessidade de audiência prévia.

Mãe de vítima clama por justiça
Em entrevista à TV Bahia no dia 11 de junho, Marineide Pereira, mãe de Paulo Daniel, relatou que Marcelo Batista se apresentou à Justiça justamente no dia do aniversário do filho, que completaria 24 anos.

“Eu pergunto a vocês se ele merece perdão. Eu, sinceramente, perdoo Marcelo Batista como ser humano. Quem vai dizer que você merece o perdão é Deus. São duas vidas e até hoje eu não sei onde jogaram”, afirmou.

Marineide contou que sua saúde está fragilizada, precisando tomar 12 comprimidos diariamente e utilizando muletas para se locomover.

“Hoje eu me encontro nessas condições. Seu juiz, coloque a mão na consciência e analise se o que o senhor fez esta certo, de ter dado a liberdade provisória a Marcelo Batista. Não tenho medo de dizer, ele é assassino, e não suspeito. Ele tirou a vida do meu filho e do colega dele, Matusalem”, disse Marineide.

Segundo a mãe de Paulo Daniel, poucos dias antes do desaparecimento, os jovens teriam sido acusados pelo empresário Marcelo Batista de furtar um gerador. Ela, porém, afirmou que o filho não tinha envolvimento com atividades criminosas e não possuía força física suficiente para cometer o suposto crime.

Relembre o caso
Em 27 de março, o Ministério Público da Bahia (MP-BA) denunciou o empresário e o soldado da Polícia Militar Josué Xavier Pereira pelos homicídios de Paulo Daniel e Matusalém Lima Muniz. De acordo com o órgão, os crimes foram cometidos com motivação torpe, utilizando métodos cruéis, dificultando a defesa das vítimas e ocultando os corpos.

No dia 31 de março, a Justiça da Bahia aceitou a denúncia do MP-BA, tornando réus Marcelo e Josué, e decretou novamente a prisão preventiva do empresário. A audiência de instrução está marcada para 16 de junho.

Marcelo estava foragido desde novembro de 2024, quando teve sua prisão preventiva determinada pela primeira vez. Em março deste ano, ele obteve liberdade provisória, deixando de ser considerado foragido até a nova decisão no final do mês.

Em entrevista à TV Bahia, os advogados de Marcelo explicaram que a nova prisão ocorreu devido ao descumprimento das medidas cautelares impostas anteriormente. Segundo a defesa, o juiz, ao revogar a prisão anterior, havia determinado condições como proibição de sair do estado, comparecimento mensal ao fórum e uso de tornozeleira eletrônica.

O descumprimento dessas condições levou o juiz a solicitar novamente a prisão, de acordo com a lei. A defesa não explicou os motivos da violação das medidas.

Em março, outros dois envolvidos no caso também tiveram liberdade concedida, mas a participação deles nos homicídios não foi detalhada, e as investigações permanecem em segredo de Justiça.

Buscas na Barragem do Cobre
No dia 17 de junho, a Polícia Civil da Bahia realizou uma nova etapa das buscas pelos corpos de Paulo Daniel e Matusalém na Barragem do Cobre. O trabalho contou com o uso de um drone subaquático, controlado remotamente por um especialista, para auxiliar os mergulhadores em áreas de difícil acesso.

A operação foi conduzida de forma integrada pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Corpo de Bombeiros Militar e Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP-BA).

Soldado da PM liberado
Em janeiro, o soldado Josué Xavier, também suspeito de envolvimento nos homicídios, foi liberado após o término da prisão temporária. Ele retornou à Polícia Militar para atuar em funções administrativas enquanto as investigações continuam. Josué é lotado na 19ª Companhia Independente (CIPM), em Paripe.

Além dele, o gerente do ferro-velho, Wellington Barbosa, conhecido como “Cabecinha”, também chegou a ser preso e cumpria prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica devido a diagnóstico de hanseníase, doença que pode afetar pele e nervos, causando limitações físicas.

O delegado José Nélis, da 3ª Delegacia de Homicídios, responsável pelo caso, afirmou que ainda não é possível determinar a participação individual de cada suspeito. Mesmo assim, a Polícia Civil concluiu que Paulo Daniel e Matusalém foram mortos.

O G1 entrou em contato com a Polícia Militar para confirmar se Josué Xavier continua atuando em atividades administrativas e aguarda retorno.

Quem é Marcelo Batista da Silva?

Marcelo Batista da Silva é o proprietário do empreendimento. Além de ser acusado pelo assassinato de dois jovens, o empresário também é alvo de investigações relacionadas a outros crimes. Segundo a polícia, ele é:

  • Investigado por duplo homicídio;
  • Investigado por tentativa de homicídio;
  • Suspeito de ligação com milícia e facções criminosas;
  • Réu em casos de violência doméstica contra a ex-companheira.

Na Justiça do Trabalho, Marcelo responde a nove processos ainda em tramitação, enquanto outros 60 já foram arquivados. As ações envolvem acusações como falta de pagamento de salários, horas extras, assédio sexual e tortura.

Durante as investigações do desaparecimento dos jovens, o carro do empresário foi periciado após ser localizado em uma loja especializada em veículos de luxo, em Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador (RMS).

O veículo, avaliado em R$ 750 mil, foi deixado na loja por outra pessoa, que pediu a troca dos bancos alegando sujeira. Para a Polícia Civil, a suposta sujeira pode corresponder a vestígios de sangue das vítimas.

Em 8 de novembro, antes de ter o primeiro mandado de prisão expedido, Marcelo afirmou que cinco toneladas de fardos de alumínio haviam sido furtadas ao longo de dois meses e que conseguiu recuperar 500 quilos em 3 de novembro, após seguir o caminhão usado no crime.

De acordo com o empresário, no dia 4 de novembro, enquanto registrava ocorrência policial contra um terceiro funcionário, Paulo Daniel e Matusalém teriam sido flagrados em outro furto à empresa.

Marcelo declarou ainda que planejava acionar a polícia no dia seguinte para efetuar um flagrante e recuperar a carga roubada. No entanto, segundo ele, os jovens não apareceram para trabalhar e não deram mais notícias.

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