Após uma temporada de apresentações que emocionou plateias em diferentes terreiros de candomblé da Bahia, o projeto “Raízes que Povoam” chega à sua parada final. Nesta sexta-feira (29), às 14h, o público poderá assistir gratuitamente ao espetáculo “Vovô” no histórico Terreiro Ilê Yá Oman, localizado no bairro do Bonfim, em Santo Amaro. Com 92 anos de tradição, o espaço será palco de uma celebração que revisita a figura do avô negro, reconhecendo-o como pilar de afeto, guardião da memória e símbolo de resistência das famílias pretas brasileiras. O projeto é uma realização do Instituto de Arte e Cultura da Bahia (IAC-BA) / Teatroescola.
No mesmo dia, das 9h às 12h, antes da apresentação teatral, será realizado um workshop de introdução à produção cultural, exclusivo para membros do terreiro e estudantes do Campus CECULT da UFRB, conduzido por Nell Araújo, fundador e gestor do IAC-BA e do Teatroescola, a primeira escola artística inclusiva do Nordeste, além de gestor do Teatro Jorge Amado. O objetivo é capacitar os participantes nas áreas de elaboração de projetos, comunicação, gestão financeira e estratégias para o fortalecimento da cultura de terreiro.
“Abrir nossas portas para o espetáculo é uma forma linda de ligar o terreiro e a comunidade, além de quebrar paradigmas. Ao trazer o projeto para uma comunidade candomblecista, você acaba não só ensinando, mas também aprendendo. Isso é de suma importância para a convivência e para a afirmação de identidade afro-religiosa, pois oferece um contato tanto com o cultural quanto com o sagrado”, comenta o Babalorixá Sérgio de Ayrá, líder espiritual do Terreiro Ilê Yá Oman.
Sobre o espetáculo – Nesta temporada, o espetáculo “Vovô” circulou, ao todo, em quatro terreiros de quatro municípios baianos. Foram eles: Terreiro Ilê Asé Odé Faroerã, de Salvador, Terreiro Ilê Asé Opô Oyá Sojú, de Lauro de Freitas, Terreiro Ilê Axé Raízes Obá Kossô Omi, de Camaçari, e, por fim, Terreiro Ilê Yá Oman, de Santo Amaro.
Para a diretora de produção e idealizadora da circulação nos terreiros, Juliana Sousa, não haveria lugar mais potente para apresentar o espetáculo do que os próprios terreiros, que são guardiões dos valores da figura do avô, da paternidade negra e do respeito aos mais velhos. “Eu entendo os terreiros como espaços vivos de preservação da memória, da ancestralidade e da oralidade, onde a história do povo negro é mantida, transmitida e ressignificada cotidianamente. São espaços que reúnem diversas gerações, onde o mais velho tem lugar de escuta e respeito, onde se aprende a pedir bênção, a valorizar os saberes ancestrais, e onde o corpo, a fala e a memória são sagrados”, avalia.
“Além disso, Vovô também traz a referência simbólica do Orixá Obaluayê, que está diretamente ligado à terra, à cura, à sabedoria ancestral e ao cuidado com os ciclos da vida. Por tudo isso, fazer essa circulação dentro de terreiros é uma escolha conceitual e afetiva, que fortalece o sentido do espetáculo e também devolve à comunidade de terreiro um espaço de protagonismo dentro da cena cultural”, completa Juliana.
Criado em abril de 2021, durante a pandemia, “Vovô” nasceu como uma criação pensada para o formato virtual, gravada dentro de casa com celulares. Em 2023, ganhou adaptação para o formato presencial, sob direção de Leno Sacramento, artista do Bando de Teatro Olodum. Com dramaturgia sensível e poética, a montagem é interpretada pelos atores soteropolitanos Pedro Zaki e Rafa Martins e agora assume uma nova perspectiva, com diferentes movimentos, expressões e novas sensações.
Sobre o Terreiro – Fundado em 1933 por Valeriana Lopes Pinto, conhecida como Mãe Vavá, o Ilê Yá Oman é um dos mais antigos templos de matriz africana de Santo Amaro. Pertencente à nação Ketu, o terreiro foi conduzido por Mãe Lídia T’Oxoguiãn por 49 anos, consolidando-se como referência espiritual. Orixá da fundadora, Nanã Buruku ocupa lugar de grande reverência, reconhecida como senhora da sabedoria ancestral e guardiã do ciclo da vida e da morte. Atualmente, a casa é liderada pelo Babalorixá Sérgio de Ayrá, cujo orixá de cabeça é Ayrá, divindade dos ventos, trovões e redemoinhos, associado à paz, à ordem e à ligação com Oxalá.
Além de sua força religiosa, o terreiro desempenha um papel ativo na preservação cultural e comunitária. Entre suas iniciativas, está o grupo Elas do Axé, formado por mulheres que produzem artesanato, fortalecendo a economia criativa local. O Ilê Yá Oman também mantém viva a tradição alimentar ancestral, com destaque para a produção de comidas típicas, como o cuscuz, que reafirma a importância da culinária sagrada como patrimônio imaterial.
SERVIÇO
Projeto Raízes que Povoam: Espetáculo Vovô + Workshop Produção Cultural
SANTO AMARO
Local: Terreiro Ilê Yá Oman
Endereço: Av. Rui Barbosa, n 577- Bonfim, Santo Amaro – BA
Data: 29 de agosto (sexta-feira)
Horário: Workshop*: 09h às 12h | Espetáculo + Bate-papo: 14h às 15h10
*Workshop exclusivo para membros do terreiro e estudantes do Campus CECULT da UFRB
Responsável: Bàbálòrìsá Sérgio de Ayrá
Instagram: @ileyaoman | @babasergioayra
FICHA TÉCNICA
O espetáculo “Vovô” conta com atuação de Pedro Zaki e Rafa Martins, sob direção de cena de Leno Sacramento e direção de movimentos de Dudé Conceição. A direção de produção é assinada por Juliana Sousa, com produção executiva de Rafa Martins e assistência de produção de Joice Salles. A gestão administrativa da instituição e a facilitação do workshop ficam a cargo de Nell Araújo.
Na equipe técnica, Robson Poeta atua como técnico de luz e Fernanda Maia na fotografia. A mobilização de plateia voltada ao público surdo é realizada por Elinilson Soares (pessoa surda), com interpretação em Libras de Vinicius Haastari e Uiara Vieira. A assessoria de imprensa é feita pela Viva Comunicação Interativa, a gestão de mídias sociais por Gabriela Andrade e o design gráfico por Larissa Boaventura.