Feminicídio: quando o ciclo da violência não encontra barreiras

Mais uma vez, uma mulher é brutalmente assassinada por aquele que deveria ser parceiro de vida. O caso de Laina Santana Costa Guedes, de 37 anos, morta a marretadas pelo companheiro em Lauro de Freitas, não é um episódio isolado: é o retrato cruel de uma sociedade que ainda naturaliza a violência contra a mulher.

Os números confirmam essa tragédia anunciada. Em 2025, o Brasil já registra aumento expressivo dos feminicídios cometidos com armas de fogo, além dos inúmeros casos de agressões praticadas dentro do lar, o lugar que deveria ser o mais seguro. A Bahia, especificamente, vem aparecendo nos noticiários com índices alarmantes.

Do ponto de vista psicológico, o feminicídio não é um ato impulsivo isolado, mas o ápice de um ciclo de violência descrito em pesquisas desde a década de 70: tensão, agressão, arrependimento, “lua de mel” e repetição. Muitas vezes, esse ciclo aprisiona a vítima em uma relação marcada pelo medo, pela manipulação emocional e pela dependência (financeira, afetiva ou psicológica).

Na perspectiva da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), sabemos que crenças distorcidas perpetuam a violência:

  • A ideia de posse (“ela é minha, logo posso controlar sua vida”),
  • A desvalorização da mulher (“sem mim, ela não é nada”),
  • E a normalização da agressão (“bater é corrigir”).

Essas crenças não nascem do nada, mas são alimentadas por uma cultura machista e pela falta de políticas públicas eficazes de prevenção, proteção e responsabilização.

É urgente lembrar: nenhuma mulher deve se sentir culpada ou responsável pela violência que sofre. O agressor faz uma escolha e essa escolha precisa ser punida pela lei e combatida pela sociedade.

Para romper esse ciclo, precisamos de:

  • Rede de apoio fortalecida (amigos, familiares, comunidade);
  • Acesso facilitado à denúncia e medidas protetivas eficientes;
  • Atenção psicológica tanto para mulheres em situação de violência quanto para seus filhos, que também são vítimas diretas do trauma;

Educação de gênero desde cedo, para desconstruir crenças machistas e prevenir novas gerações de repetir essa tragédia.

Cada nome estampado nas manchetes não pode ser reduzido a estatística. Eram vidas, histórias, sonhos interrompidos.
Enquanto sociedade, precisamos transformar indignação em ação.

Se você que me lê está vivendo uma relação abusiva, procure ajuda. Disque 180, procure a Delegacia da Mulher, acione a rede de apoio. Você não está sozinha!

Colunista: Helena Gonçalves (Psicóloga – CRP 03/24597)

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